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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Correntes cervejeiras: Lei de pureza x Cerveja impura


Recentemente li em um fórum, de discussão propriamente dito, em que haviam membro defendendo e atacando ferozmente  duas formas de pensar sobre a produção artesanal de cerveja

Lei de pureza X Cerveja Impura

Muito já ouvi dizer sobre o que são os ingredientes de uma boa cerveja. Duas correntes se colocam como 'concorrentes' neste sentido, mas pra falar francamente, acredito que ambas estão corretas e podem conviver perfeitamente juntas e em harmonia.

A primeira surgiu a 500 anos atrás, em 23 de Abril de 1516, quando o Duque Guilherme IV da Baviera proclamou a Reinheitsgebot (estou até hoje tentando dizer da forma certa este nome, dizem que é assim "ˈʀaɪ̯nhaɪ̯tsɡəˌboːt"),ou traduzida para o português: Lei de pureza da Cerveja. Uma lei que obrigava todos que produziam cerveja a utilizar apenas os elementos básicos, ou seja:

 LÚPULO          CEVADA           ÁGUA



Mais adiante, ou bem mais adiante, as LEVEDURAS foram consideradas fundamentais pois não eram de conhecimento na época em que a lei fora proclamada.
Alguns produtores, e em maior grau das principais cervejas alemãs tem nesta lei uma diretriz para sua produção.
Algumas fontes dizem que a lei foi promulgada para barrar o crescimento de cervejas com a utilização de outros elementos como o trigo e outros cereais mais baratos e que reduziriam a qualidade das cervejas da Baviera. Outras fontes já dizem que foi uma forma de controlar o comércio da cevada que seria de posse principalmente de pessoas próximas ao duque e que traria mais dividendos a ele. A realidade, não saberemos e fica a cargo de cada um escolher o que prefere acreditar (Mais adiante pretendo me aprofundar um pouco neste tema)

Texto da Lei:
Proclamamos com este decreto, por Autoridade de nossa Província, que no Ducado da Baviera, bem como no país, nas cidades e nos mercados, as seguintes regras se aplicam à venda da cerveja:

Do dia de São Miguel (29 de Setembro) ao dia de São Jorge (23 de abril), o preço para um Litro ou um Copo, não pode exceder o valor de Munique do pfennig.

Do dia de São Jorge (23 de Abril) ao dia de São Miguel (29 de setembro), o litro [nota: uma unidade equivalente ao atual litro] não será vendido por mais de dois pfennig do mesmo valor, e o copo não mais de três Heller (Heller geralmente é meio pfennig).

Se isto não for cumprido, a punição indicada abaixo será administrada.

Se todo cervejeiro tiver outra cerveja, que não a cerveja do verão, não deve vendê-la por mais de um pfennig por Litro.

Além disso, nós desejamos enfatizar que no futuro em todas as cidades, nos mercados e no país, os únicos ingredientes usados para fabricação da cerveja devem ser lúpulo, malte e água.

Qualquer um que negligenciar, desrespeitar ou transgredir estas determinações, será punido pelas autoridades da corte que confiscarão tais barris de cerveja, sem falha.

Se, entretanto, um comerciante no país, na cidade ou nos mercados comprar dois ou três barris da cerveja (que contém 60 litros) para revendê-los ao vendedor comum, apenas para este será permitido acrescentar mais um Heller por copo, do que o mencionado acima. Além disso, deverá acrescentar um imposto e aumentos subsequentes ao preço da cevada (considerando também que os tempos da colheita diferem, devido à localização das plantações).

Nós, o Ducado da Baviera, teremos o direito de fazer apreensões para o bem de todos os interessados.

– Guilherme IV Duque da Baviera


A segunda corrente se coloca justamente contra a primeira, dizendo que a produção cervejeira não pode 'simplesmente' se colocar sob a lei e barrar a criatividade do produtor em adicionar elementos diferentes ao processo cervejeiro. Se fosse desta forma as maiores marcas brasileiras não poderiam ser chamadas de 'cerveja' (sei que neste momento os cervejeiros caseiros diriam que realmente não são, mas são sim!). A inclusão de especiarias, frutas, e outros adjuntos promoveram o surgimento de uma grande quantidade de novas cervejas que aguçam nossa curiosidade e instigam nossos sentidos ao prova-las.

O que eu já vi foi um cervejeiro artesanal discutindo sobre este assunto defendendo ferrenhamente a liberdade de criação de novas cervejas com novos elementos e usando uma camiseta com o desenho dos 4 elementos base descritos pela Reinheitsgebot, e criticando as cervejas nacionais por usarem 'cereais não maltados'

Mas o que impede que usar ambas as correntes ao nosso favor e tirar o melhor desta que não é tão só uma bebida mas sim uma ciência. Podemos dizer que acha-se importante a visualização de uma base para a cerveja, como a lei promove, mas que adições que nos trazem novas experiências são bem vindas. Assim podemos dar vazão a toda nossa criatividade sem que a cerveja deixe de ser cerveja (já vi pessoas fermentando suco de fruta e mosto de milho com fermento cervejeiro).

Eu mesmo procuro seguir firmemente os padrões BJCP mas fizemos uma American Amber Ale com Limão cravo (a Kravo Vikars) que ficou sensacional!

Enfim, viva a criatividade cervejeira, mantendo-se uma base para a cerveja continuar com a qualidade para nosso paladar.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Brassagem: O processo de fazer cerveja


Uma das frases mais recorrentes que ouço no mundo cervejeiro é:



"Fazer cerveja é simples, mas não é fácil"


Bom, o caso é que o processo de fazer cerveja realmente é muito simples, seja em qualquer escala os passos são muito parecidos, e basicamente podemos descrevê-lo como:


  1. Preparar os grãos
  2. Mosturação (cozimento)
  3. Filtragem, Clarificação e Lavagem
  4. Fervura
  5. Resfriamento
  6. Fermentação
  7. Maturação
  8. Envase


Sei que alguns vão querer colocar alguns itens a mais nesta lista e outro vão querer tirar por considerarem mais ou menos importantes, mas o fato é que com estes passos 'simples' uma cerveja fica pronta para o consumo.


Mas e ai? Como serão cada um destes passos, e o que pode ser envolvido nisso que não seja 'fácil'?


A questão de não ser fácil vai sendo reduzida a quase zero quando você vai estudando cada processo e sua importância. Pois cada processo envolve minúcias que podem modificar drasticamente o produto final, e o cervejeiro normalmente quer uma cerveja de acordo com o que imaginou.


"Quero uma cerjeva de coloração avermelhada, com um % de álcool x e que tenha mais ou menos amargor, com um aroma cítrico, ou frutado, ou ainda com notas de café ou chocolate". Tudo isso é influenciado por cada uma das etapas de uma brassagem e conhecer cada uma delas o quanto mais leva a alcançar o resultado esperado no momento que você inicia o processo.

Nesta descrição de processos vamos abordar a forma na qual considero o mais artesanal possível, chamado 'all grain' ou, 'somente grãos'. Existem outras técnicas que espero poder escrever a respeito mais adiante.
Então vamos a eles (os detalhes de cada um serão abordados em artigos distintos):


1 - Preparação dos grãos



Atualmente os grão utilizados são preparados para facilitar a preparação da cerveja, e normalmente já é adquirido pronto para uso. O grão é maltado para aumentar a extração dos amidos e enzimas necessárias na produção. O processo de maltação faz com que o grão inicie a germinação liberando o amido que deveria ser consumido pela planta nova mas o processo é parado secando o grão. A cor e o teor de açúcar de uma cerveja tem a ver com o tipo de aquecimento que o grão sofre

A única etapa a ser executada pelo cervejeiro é a moagem do grão (vide artigo) que quebra-o para a exposição do amido e contato com a água.

Nesta etapa o conhecimento cobre os tipos de grãos e a moagem executada faz a diferença na receita


2 - Mosturação (cozimento)



Nesta etapa, a importância é o controle das temperaturas para que seja extraído o tipo de enzima desejado. Determinadas temperaturas fazem com que a cerveja seja mais ou menos encorpada e tenha um volume de álcool diferente. A sensação de secura ou dulçor também é definida neste processo


3 - Filtragem e Lavagem



Após o cozimento dos grãos com a completa extração do que nos é importante, temos um líquido doce que deverá ser separado dos grãos. Para tanto usa-se o próprio farelo para formar uma cama que fará a filtragem do líquido. Para tanto usa-se uma panela com uma torneira na parte de baixo por onde o líquido é escoado e reinserido na parte de cima fazendo uma circulação. Este procedimento é chamado de 'recirculação'.

Com o processo pronto a não mais extraindo vestígios dos grãos, é drenado o líquido (mosto) para uma nova panela e é colocado água limpa para fazer a lavagem dos grãos tirando o resíduo de açúcar que ainda tem


4 - Fervura



Quando o todo o mosto é separado dos grãos, dá-se início a fervura e neste momento define-se o amargor, sabor e aroma proveniente do lúpulo que tem uma grande gama de tipos para dar uma personalidade à cerveja.

Além disso, durante a fervura, que deve ser intensa, são eliminadas substâncias indesejadas para o resultado final


5 - Resfriamento



Com o término da fervura começamos a preparar o mosto para recebimento do fermento, só que ainda está muito quente e acabaria por matar as células da levedura. Então devemos resfria-lo até cerca de 25C

Esta etapa se torna crítica pois a partir dela, o risco de contaminação aumenta muito e é necessário o controle e sanitização os equipamentos frequentemente. Afinal, tudo o que não queremos é perder nossa produção.

6 - Fermentação


Com o mosto na temperatura ideal, fazemos uma oxigenação pois as células do fermento que iremos colocar precisam para se multiplicar e alcançar o volume para a transformação do açúcar contido no mosto em álcool. Deixamos então que a levedura trabalhe durante alguns dias até que tudo seja transformado

7 - Maturação


O processo de maturação é algo que é tido como importante para alguns e para outros não. Nele é retirado o excesso de fermento resultante da fermentação e deixa-se que descanse por alguns dias. O que se espera neste tempo é que alguns dos resíduos em suspensão decantem e também que haja equilíbrio no sabor

8 - Envase


É a fase final do processo antes do consumo. Nela se escolhe a forma com o qual será consumido podendo ser colocado em garrafas ou em barris. E também é escolhida a forma de fermentação, no caso dos barris que pode ser forçada ou refermentação no caso de garrafas. Em todos os casos, o resultado será a adição de CO2 conferindo o aspecto de gás que a bebida possui




Esta simples descrição mostra que os passos não são tão fáceis por possuírem uma série de minúcias a serem consideradas, mas quando estudamos e nos aprofundamos no assunto as dificuldades vão se reduzindo tornando o processo cada vez mais prazeroso.

Gosto de sempre lembrar que fazer cerveja é um conjunto de ciências: biologia, química, matemática, engenharia, etc. Mas isso é para um outro assunto!




Um abraço e sigam nossos próximos artigos. Vamos nos aprofundar 'um pouco' em cada um dos processos




Um abraço

Fabiano Vigário

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Tabela periódica da Cerveja - proposta Vikars


Tabela Periódica da Cerveja "Vikars" BJCP2015


 Um item que considero um grande apoio para o cervejeiro é a tabela periódica. Existem alguns modelos encontrados na internet, mas em suma elas contém a mesma informação.
Apresentam os principais índices que se tornam diretrizes a serem alcançadas durante a pesquisa, criação e produção de uma receita.

Os principais valores são:

  • Nome do Estilo
  • Codigo de referência
  • Densidade Inicial (OG - Original Gravity)
  • Densidade Final (FG - Final Gravity)
  • Álcool por volume (ABV% - Alcahol by Volume)
  • Medida internacional de Amargor (IBU - International Bitterness Unit)
  • Método de referência de cores padrão (SRM - Standard Reference Method)
As tabelas mais encontradas na internet são estas:
 
 "Periodic Table of Beer Styles" - 2001 - Mantis Design
 Tabela Periódica da Cerveja - 2010 - Atelier da Cerveja (Fábio Guzzo)

Porém, estas tabelas não são como a tabela periódica que usamos em química. A tabela química é considerada fixa, não imutável, mas fixa. Os elementos não tendem a ter alterações.
Diferentemente da tabela da cerveja que está sempre em aprimoração. As tabelas constantemente encontradas fazem referência a padrões estabelecidos e que já foram alterados.
Pensando nisso a Vikars pensou em um modelo baseado no atual padrão BJCP 2015, e visando manter as informações como descritas nas tabelas anteriores mas também obedecendo a estrutura destrita no BJCP Guideline 2015.
Com isso, queremos manter os cervejeiros artesanais atualizados das alterações e como cada estilo se comporta.

Tabela Periódica da Cerveja "Vikars" BJCP2015
Download da tabela

Deixe seu comentário sobre nossa proposta desta tabela!

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Teste de moagem de gãos - resultado

É fato que a eficiência de extração está intimamente ligada ao fator temperatura, mas não só a isto.
A área de contato pode influenciar em muito a extração do amido que posteriormente será transformado em açúcares fermentáveis (maltose) ou não fermentáveis (dextrinas).
Mas nosso objetivo hoje não é propriamente verificar quais destas enzimas são extraídas, e como, mas sim a quantidade de açúcares gerados mediante o tipo de moagem aplicada

A moagem é o primeiro passo para todos os cervejeiros, salvo alguém que se aventure a fazer a própria malteação.



A experiência:

Em nosso experimento, utilizamos 400g de malte Pilsen (não nos atemos a marcas), divididos em 4 lotes de 100g previamente moídos.



A moagem foi feita nos três primeiros casos usando um moedor de grãos, comum aos cervejeiros, usando desde o máximo de trituração possível para o mecanismo até uma trituração grosseira, que deixou até mesmo alguns grãos inteiros.
E na última amostra foi utilizado apenas um triturados manual para somente amassar o grão mas sem grandes alterações


Cada lote foi colocado em um recipiente de vidro (vulgo vidro de palmito!) com uma quantidade de 300ml de água) e uma quantidade de mais 50ml foi usado posteriormente para fazer a 'lavagem' dos grãos em uma peneira




Os potes foram cozidos em banho maria por 1 hora a uma temperatura média de 67ºC.


O resultado:


Após este período de uma hora, o mosto foi peneirado e lavado com os 50ml de água, onde o resultado foi:


Medidas as densidades tivemos

Amostra Densidade Original (OG) Temperatura Densidade corririda
1 1070 29ºC 1072
2 1068 28ºC 1070
3 1056 27ºC 1058
4 1050 28ºC 1052


Nossa Conclusão:


Concluímos então que, quanto mais fina a moagem, maior a extração de açucares para a fermentação.
Mas espere um pouco, pois uma moagem muito fina pode também favorecer a extração de taninos que não são desejáveis em nossa cerveja. Eles causam um efeito adstringente que lembra frutas excessivamente verdes (como banana verde)
Os taninos são normalmente extraídos com temperaturas mais altas, mas a moagem excessiva da casca do grão pode facilitar essa extração.

Outra observação sobre nossas amostras é o fato de terem se tornado cinza e na última imagem notamos uma camada de resíduos em três dos recipientes.
Esta coloração se dá devido a presença de proteínas que normalmente no processo de brassagem são filtradas pela cama formada pelos grãos, o que retira praticamente toda esta colocação. Mais uma parte da coloração deixa de existir no processo de fervura.

Por fim, notamos a grande quantidade de resíduos extremamente finos. Nota-se uma redução da primeira amostra até a última, onde quase não existe devido a moagem grosseira. Este tipo de resíduo, pode causar o 'Stuck sparge', a dificuldade ou o entupimento do processo de filtragem. É uma lama fina nomeada 'Tieg'.

Em brassagens completas notamos que a melhor relação entre moagem, extração e demais processos da fabricação fica por conta da moagem feita na segunda amostra onde as cascas permanecem predominantemente inteiras mas os grãos estão bem quebrados gerando alguma farinha sem excesso.






sábado, 18 de junho de 2016

Grãos x moagem - o que há de relação?

Olá, hoje, antes mesmo de começar a falar de processos de produção da cerveja caseira, resolvi falar um pouco do que vem nos intrigando desde que comecei a usar aplicações cervejeiras ou fazer cálculos: "Alcançar a melhor eficiência". Em alguns grupos que sigo, isso vem sendo um assunto recorrente.

Sempre que eu uso um programa de criação de receitas, ou mesmo quando faço os cálculos da brassagem os valores que me são apresentados são sempre superiores do que consigo no final. Por exemplo, em minha última brassagem, uma American IPA, a eficiência estimada era de 82% e conseguimos apenas 69,5%. Por que isso? Em tese, o programa trabalha com valores ideais e que dificilmente são conseguidos em uma brassagem artesanal.

Mas o que influencia esta diferença?
O que precisa ser feito para chegar mais próximo do ideal?

E eficiência, de uma forma simples, é o valor conseguido na extração de açúcares com base na extração ideal.

E então resolvi estudar um pouco mais sobre a extração destes açúcares que estarão diluídos na água para o processo da fabricação, lendo artigos, vendo alguns vídeos e buscando referencias.

Existe uma série de fatores que influenciam a eficiência e um infográfico interessante que encontrei foi este:

São consideradas as eficiências:

  1. Na extração, durante o mash, que é a etapa inicial e tem referência com o tipo de grão e a temperatura usada no processo
  2. Na lavagem. Durante o processo de clarificação, os grãos ainda possuem bastante o que ser extraído e a melhoria deste processo pode ampliar a eficiência.
  3. Na fervura. O processo de evaporação e reposição pode influenciar no cálculo final da eficiência
  4. Na Fermentação.O tipo de levedura utilizada e a atenuação ocorrida é um ultimo ponto que podem afetar o valor da eficiência final do processo
Para que alcancemos um valor próximo ao ideal, é necessário o completo conhecimento e a melhoria dos processos individualmente.


Vamos nos ater inicialmente ao primeiro item, que é a eficiência na extração. Ela é composta principalmente por dois ítens: Temperatura e área de extração, e a área de extração tem a ver com a moagem dos grãos, que será o nosso primeiro teste

Teste:"A moagem correta do grão"
Usaremos 4 amostras de moagem deste o "praticamente pó" até o grão somente quebrado.

Os resultados deste teste publicaremos dentro de alguns dias! Acompanhe!!

(Resultado do teste de moagem)

Depois disso falaremos dos cálculos e dos demais processos.

Abraços e vamos aos testes